Analog Me #010 - Explorando o poder da introspecção na fotografia
Como um olhar interior e sensível pode impactar a forma como capturamos imagens
Queridos amigos,
Como todos sabemos, fotografia envolve muita interação humana e sociabilidade. Mas, em alguns momentos, um pouco de introspecção pode nos ajudar a evocar emoções verdadeiras em nossas imagens.
Hoje quero compartilhar com vocês um traço da minha personalidade, que muitas vezes faz com que eu assuma um ritmo e postura diferentes na hora de fotografar.
Mesmo em silêncio, pode-se falar muito
Sempre senti que as interações e trocas de experiência que a fotografia me proporciona representam uma das partes mais especiais e marcantes da minha jornada como fotógrafo. Este, com certeza, é um dos motivos para eu ter me apaixonado por sair vagando pelas ruas de Curitiba, com minha câmera pendurada no pescoço.
Ao mesmo tempo, sinto que preciso ser sincero… É impossível manter essa postura extrovertida 100% do tempo. Momentos de silêncio e solitude fazem parte do "ser" humano. E para mim, quando estou sozinho, parece que consigo prestar atenção em coisas que normalmente me passam despercebidas.
Gosto de fotos repletas de informação. Aquelas que revelam movimento, personagens, acontecimentos e até mesmo um certo sentimento de euforia. Mas, por outro lado, também sou um grande fã de imagens “simples”, que focam em elementos que podem ser considerados pouco impactantes, como paisagens inertes, símbolos e objetos comuns.
Contraditório, não é mesmo?
Acredito que um pouco de introspecção pode ser muito valioso para a fotografia. Colocar o mundo no “silencioso”, e focar no que realmente temos dentro de nós, é um verdadeiro desafio. Ainda assim, digo que o exercício vale a pena, porque sempre permitiu que eu me expressasse de uma forma autêntica através das imagens que capturei.
Não foram poucas as vezes que me encontrei perdido, sem conseguir entender meus próprios pensamentos e emoções. Seja por um dia ruim que vivi, ou por lembranças intensas que vieram à tona. Querem saber o que eu costumo fazer? Simplesmente saio caminhando por aí, registrando tudo aquilo que parece ser sensível para mim.
Plantas, construções, detalhes, contraste entre luz e sombra. Vou encaixando diferentes figuras no meu enquadramento, de forma que as pessoas ao meu redor possam ter um pequeno vislumbre de reflexões realmente pessoais, e até um pouco íntimas, que fazem parte do meu “eu” fotógrafo.
O papel da fotogrofia preto e branco
Uma coisa interessante que percebo também, é que a maioria dessas fotografias, que considero registros dos momentos existencialistas, foram feitas com filmes preto e branco. Difícil dizer o porquê dessa escolha. Na mesma medida que as cores de uma paisagem podem ser algo belo e cativante, também as vejo como um tipo de distração.
Isso não diminui nem um pouco minha paixão pela fotografia colorida. A escolha de qual tipo de filme usar tem muita relação com a intenção, sentimentos e sujeito que estou fotografando. E quando estou me sentindo meditativo, imagens monocromáticas parecem dar mais espaço para que meus pensamentos voem longe.
Para encerrar: não deveríamos precisar de grandes acontecimentos para fotografar de maneira significativa. Afinal de contas, o impulso que sentimos em registrar um momento único depende do que trazemos conosco - os livros que lemos, os filmes que vimos, as músicas que ouvimos, as pessoas que amamos.
É exatamente isso que me faz compreender que minhas fotografias devem ser importantes para mim, em primeiro lugar. Se elas vão impactar outras pessoas, ou não, é uma preocupação que prefiro deixar para o acaso.
Leitura Extra
Por hoje, é isso!
Fiquei bastante tempo sem escrever por aqui, e talvez isso possa acontecer outras vezes. Mas é tão bom poder compartilhar o que penso sobre a fotografia, e o quanto essa arte impacta minha vida. Espero que tenham gostado de conhecer mais este lado do meu trabalho. Fotografem, só fotografem. Integragindo com os outros, ou somente consigo mesmo.
Na próxima edição: Quero escrever sobre um dos queridinhos dos mestres da fotografia colorida. Ele mesmo, o Kodachrome 64. Um filme descontinuado pela Kodak, mas que marcou uma geração inteira de fotógrafos.
Obrigado pelo apoio e carinho de sempre.
Até a próxima,
Gabriel Wisniewski
Analog Me é uma newsletter produzida por Gabriel Wisniewski.
A edição #011 estará disponível em breve.
PS: todos meus filmes são revelados e digitalizados pelo pessoal do Lab:Lab Analógico, um dos mais importantes laboratórios fotográficos da América Latina. Tenho enorme respeito e admiração pela equipe deles.
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É maravilhoso esse olhar holístico que você, Gabriel, têm sobre a vida e os detalhes que a fazem única! Simplesmente adorei o texto e as fotografias. De um significado singular, no contexto da fotografia analógica. Eu reconheço que Você tem uma capacidade ímpar: a de ver luz, onde na maioria das vezes, predominam as sombras. Que Deus continue cuidando dos teus sonhos, como a menina dos olhos Dele!